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ADRIANO E ANTÍNOO – UM AMOR À MODA ANTIGA?

Adriano era filho de um primo de Trajano, o Imperador. Ele recebeu a superproteção da esposa de Trajano, a poderosa Pompeia Plotina, uma mulher sem filhos, respeitada perante a sociedade romana por suas virtudes e pela inteligência. Admiradora da poesia e da filosofia grega, transmitiu a Adriano toda a sua visão sobre a cultura dos pensadores gregos.

Adriano e Pompeia Plotina

Acerca de Plotina rondam boatos de que na verdade era ela a bem relacionada com os senadores e articulista do marido na área política. Fala-se, inclusive, que no regresso do marido a Roma, quando este se encontrava muito doente foi graças a tal enfermidade que ele não conseguira chegar em casa, morrendo em Selênio, uma colônia grega na armênia.

Já Trajano era um conquistador romano sempre preocupado em expandir o Império. Porém, segundo as más línguas da época, ele também se deixava conquistar pelos belos rapazes. Talvez tenha sido o próprio tio quem chamara a atenção de Adriano para o culto à beleza e à inexperiência dos jovens.

Diante deste fato inusitado Plotina contratou um ator para se passar por Trajano, pois o marido ainda não havia oficializado a adoção do jovem Adriano por quem ela nutria cara afeição e assim ele não poderia assumir como Imperador. Com isto Plotina, em verdade, figurou nos bastidores como a responsável pela coroação de Adriano. 

A homossexualidade esteve presente em várias culturas antigas. Homero já se refere a tais práticas. Entre militares os homens mais velhos mantinham relação sexual com os recém-ingressos na formação militar como forma de transmitir os princípios marciais. Ao que tudo indica, aquilo que era reservado aos militares deslocou-se para a esfera social, chegando até à educação proposta por sábios da Antiguidade aos noviços e iniciados no conhecimento. Nasce, então, o amor do jovem pelo mestre e o mestre por sua vez irradiava encantamento pelo seu pupilo, admirando a sua beleza e a sua inocência.

Há quem diga que Sócrates e Platão exerceram a prática homossexual com seus discípulos, mas até agora na literatura platônica este vínculo limitava-se ao que ficou conhecido mundialmente como amor platônico, sem contato físico, ao lado de outra relação afetiva que se poderia chamar de paixão sublimada e de uma admiração à inteligência que se traduzia através dos longos debates filosóficos.

Ao mesmo tempo quando se olha para Aristóteles, o orientador de Alexandre, o Grande, percebe-se uma clara distinção que ele faz em seus comentários. Para ele há diferença entre um homem deitar-se com outro homem para renovar-se culturalmente, trocar virtudes e experiências de natureza superior, mas por outro lado, segundo os gregos, a prática promíscua do sexo levaria ao abuso das forças que deveriam ser canalizadas para o amadurecimento do Ser.

Todavia ninguém é inocente ao ponto de achar que um belo par de coxas de um macedônio, ou um bem definido peitoral de um espartano, ou ainda os olhos oblíquos de um persa não provocaria o desejo carnal de outrem, como ocorria até com os deuses do Olimpo que na mitologia mostravam-se bem humanos.

O amor de Adriano foi mais além do famoso amor platônico. O seu coração foi arrebatado pela beleza de um adolescente de 14 anos, quando então o Imperador contava com mais de 40, como mostra a foto à direita. Antínoo era o nome do rapaz. Nasceu na Bitínia, uma cidade na Turquia construída por gregos e inevitavelmente toda tradição e formação do jovem era grega, o que deve ter despertado maior interesse do Imperador. Já que ele admirava tudo que era grego, Antínoo não seria uma exceção à regra.

Curiosamente, ao contrário dos romanos, Adriano deixava a barba crescer com a finalidade de esconder algumas manchas que tinha no rosto.

Adriano era casado, mas de fato o matrimônio não foi muito bem sucedido e o Imperador não teve herdeiros. Enquanto ele viajava com Antínoo sua esposa se entregava nos braços dos escravos. Em 130 d.C. seu grande amor teve um trágico fim, pois em visita ao Egito com o jovem, não se sabe ao certo se a causa do afogamento no rio Nilo foi acidental ou tratou-se de algum ritual de sacrifício, Antínoo morreu!

villa adriana 2

A partir daí a vida para Adriano perdeu o sentido e ele nem mais viajava, preferindo, quando sentia-se depressivo, refugiar-se em uma bela localidade em Tivoli, uma região rural afastada de Roma.

Este lugar, atualmente, é conhecido como a Villa Adriana. É um complexo de 100 mil metros quadrados. Em sua origem possuía templos, 30 edifícios, palácios, bibliotecas, lagos, cavernas, recantos arborizados que inspiravam paz com muitas estátuas gregas e uma pequena ilha, cercada por um córrego que, segundo os arqueólogos que escavam o local, foi feita com intenção de que o Imperador relembrasse do seu grande amor, que morrera no rio Nilo. Na foto abaixo percebe-se a sua pequena ilha e nela ainda existia uma ponte que era erguida quando Adriano não queria contato com mais ninguém.

Vila Adriana

A fim de que Antínoo não fosse esquecido, Adriano o elevou à categoria de um Deus, imortalizando sua juventude e sua beleza em santuários com estatuetas que até hoje são encontradas em várias regiões do Oriente Médio. Na Europa, em Paris, no Museu do Louvre, há uma delas em exposição, ao lado do busto de Adriano.

Adriano morreu em 138 d.C. muito doente e em condição de miséria. O homem que tinha ajudado a economia de seu Império, se preocupado, inclusive, com os mais necessitados, que havia premiado prefeitos das províncias por suas gestões honestas e dignas, que reprimiu os governantes que abusavam do poder e que muitas vezes pagou pessoalmente aos seus trabalhadores que o ajudaram a construir cidades, fortalezas e muralhas, partia de um mundo bem diferente do que encontrou ao chegar ao trono de Roma. Os historiadores narram que ele tentou por várias vezes o suicídio, mas fracassou porque era sempre salvo por quem o servia: seus escravos.

Antes de sua morte ele adotou os jovens Lúcio Élio César e Antonino Pio. O primeiro morreu antes de Adriano, mas o imperador deu a Antonino a oportunidade dele se tornar o quarto dos cinco bons imperadores. Adriano ainda fez com que Antonino jurasse que ele passaria o Império para os herdeiros de seu irmão adotivo, Lúcio Élio César, o que abriu espaço para a subida ao trono de Marco Aurélio, o imperador-filósofo, o quinto e último dos bons imperadores romanos.

Após a morte do imperador Marco Aurélio Roma voltou aos seus dias de sangue e de terror tendo à frente Cómodo, o imperador louco, o mesmo que inspirou a produção do filme O Gladiador.

Mas isto já é outra história…

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