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MOISÉS RECEBEU OS DEZ MANDAMENTOS?

Atribui-se ao Buda o seguinte ensinamento, “quando o Homem ora, fala com Deus; quando o Homem medita, ouve Deus!” No caso de Moisés, ele nem orou, muito menos meditou. Ao que tudo indica, ele e Jeová eram bem mais íntimos.

O assunto, apesar de ser aceito como verídico entre os cristãos, foge aos limites da compreensão humana, até porque quando se fala em Deus, tudo fica muito distante, e inalcançável.

Todavia o Judaísmo e consequentemente o Cristianismo resolveram dar uma solução nessa distância Universal, e personificou o Criador numa tentativa de simplificar o ensinamento cristão aos mais ignorantes. O verbo Crear foi modificado para criar, como bem explicou o teólogo, filósofo e educador Huberto Rohden, sugerindo outra definição para a divindade. “Crear é a manifestação da Essência em forma de existência – criar é a transição de uma existência para outra. O Poder Infinito é o creador do Universo – um fazendeiro é criador de gado. Há entre os homens gênios creadores, embora talvez não sejam criadores.” (ROHDEN, 1989).
Desprendendo-se da tradução equivocada e intencional feita na Bíblia, o assunto é Moisés e os Dez Mandamentos. Teria ele conversado mesmo com Deus? De fato, recebeu as tais leis?

Para responder a estas questões é necessário compreender algo simples, porém fundamental. O Cristianismo na figura representada de seus fundadores cometeu um grande equívoco que foi o de tornar a Bíblia uma obra inquestionável, acima de qualquer suspeita ou como assevera Bart Ehrman, considerado, no momento, uma das maiores autoridades do mundo teológico, “O Cristianismo é uma religião do livro!” (EHERMAN, 2010).

Mosteriro de Santa Catarina 3

Este erro trouxe sérios prejuízos éticos, morais e intelectuais para o mundo Ocidental. Os cristãos foram proibidos de pensar, de duvidar, de questionar, o que promoveu as amarras na Filosofia que, por sua vez, passou a ser subjugada aos dogmas da Religião Cristã. Ao mesmo tempo foi aberto um grande abismo entre a Ciência e a Religião.

A narrativa bíblica fala de um Monte onde Moisés teria conversado com Deus. E mais, teria visto o próprio Creador manifestando-se através de um pequeno arbusto que queimava diante de seus olhos.Tomando como princípio as descobertas relevantes da Arqueologia em Israel e no Egito, que por sinal contrariam as narrativas bíblicas, o povo hebreu nunca foi escravo nas terras egípcias. Ao contrário, foram trabalhadores assalariados que se multiplicavam aos montes. Tinham direito à alimentação, casa, e ainda experimentaram a primeira cerveja do mundo antigo, inventada pelos egípcios. Liderados por homens inteligentes e belicosos, verdadeiros estrategistas militares como Moisés, Arão e Josué, os hebreus resolveram debandar das terras áridas em busca da ideia obsessiva do paraíso perdido, uma “Terra Prometida” a um homem chamado Abraão, cuja existência ainda não foi confirmada. (RANGEL 2011).

Os padres ortodoxos cristãos que hoje habitam o Mosteiro de Santa Catarina, na Península do Sinai, território egípcio, ainda admitem ter a descendente da pequena árvore que queimou diante dos olhos de Moisés.

Em pesquisas que realizamos no Mosteiro não foi difícil encontrar muitos cristãos fazendo fila para tocar no arbusto que ainda se ramifica na intimidade do Mosteiro. Fé é inquestionável para os cristãos. Não se explica. Segundo eles se sente, crê e pronto!

Mosteiro de Santa Catarina 2

Se o Pessach implica na comemoração da saída do Egito, a libertação física, onde no mundo cristão, ao mesmo tempo, celebra-se a páscoa, o Shavout é a expressão usada para dar significado à liberdade cultural dos hebreus que se deu através da outorga da Torá no Monte Sinai. (SENDER, 2001).

Os mandamentos supostamente registrados por Moisés não foram dez. A soma das leis chega a 613. Estas leis são sociais, ecológicas e dietéticas. Elas estão divididas em 248 “Farás” e 365 “Não farás”, ou seja, mais preceitos proibitivos, negativos, do que positivos. Para compreender o Livro da Lei, a Torá, é importante ressaltar que o Judaísmo se apoia neste tripé, PovoLei e Terra.

Moisés possui um povo, mas precisa de uma Lei. A que ele conhece é a egípcia. Então as leis judaicas são cópias em grande parte das leis civis egípcias. Portanto não são de autoria de Moisés nem de Deus. Apenas os livros do Gênese e do Êxodo surgiram sete séculos após os supostos fatos ali narrados. E ainda há os que tentam encontrar originalidade nestes textos. E também muito mais são os que acreditam nisso.

No contexto social, político, geográfico e religioso, entende-se agora as áreas de atuação daqueles que entram em conflito com Israel. Tentam derrubar um desses pilares, pois acreditam que assim farão perecer e até extinguir as origens, acabando com a identidade dos israelenses. Desta forma não há perspectiva de paz a médio prazo para os problemas no território israelense, nem para seus vizinhos.

FOTOS: LISZT RANGEL

BIBLIOGRAFIA:

RANGEL, L. Por que Jesus? – Para Compreender a História de um Homem e seu
Povo. Recife: Editora Bom Livro, 2011.

ROHDEN, H. Orientando Para a Auto-Realização. São Paulo: Martin Claret, 1989.

SENDER, T. Iniciação ao Judaísmo. Rio de Janeiro: Nova Era, 2001.

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