O pequeno vendedor de pedras
Texto e Foto
Liszt Rangel
Certo dia, certa feita, eu cruzava o deserto do Saara, no Egito, em direção à cadeia de montanhas na península do Sinai. Meu objetivo era conhecer o Mosteiro situado ao pé do Monte Sinai e examinar alguns antigos documentos da época do Cristianismo Primitivo.
Saímos da cidade do Cairo, e por quase 4 horas, viajando de carro, paramos em algumas pequenas cidades muito pobres, à semelhança de vilas. Conhecemos pessoas, compartilhamos da mesma refeição simples dos moradores locais, sentimos o calor não só do Deserto, mas também da imensa carência que vagueia por aquela região.

Porém, algo na estrada me chamou a atenção e pedi para que meu guia, um professor de História e Arqueologia, com mestrado pela Universidade do Cairo, parasse imediatamente o automóvel e voltasse, pois algo na estrada havia me despertado a atenção. Ele não entendeu meu pedido, mas assim o fez.
Parei diante de uma bela cena. Um garoto, ainda adolescente, sentado à beira da estrada, vendendo lindas pedras, mas de pouco valor comercial…
Depois de conversar com ele, conhecendo um pouco sobre aquelas pedras, o motorista do veículo em que eu estava retirou da pulseira de seu braço uma pedra verde, que cintilava muito, e de relativo tamanho. Então, perguntou se o pequeno vendedor não trocaria todo aquele monte de pedras por uma única, a que ele tinha nas mãos, mostrando a gema verde.
O garoto sorriu, olhou, e lhe perguntou: “Mas o que eu faria com uma pedra apenas? Tenho muitas outras para vender… Não vale a pena, não quero!”.
Fiquei sem entender a motivação daquele diálogo, até que ao voltar para o carro, o motorista me disse, “a pedra que ofereci ao garoto, senhor Liszt, é uma esmeralda, mas ele aprendeu a vender pedras como alabastro, turmalina, quartzo e outras… Ele não sabe nem o que é uma esmeralda, muito menos seu valor”.
E, de fato, fiquei pensando no caminho sobre valores, vivência e conhecimento. O pequeno vendedor sequer tocou na pedra, e logo a rejeitou… Realmente, quem sempre viveu com qualquer pedra não saberia o valor da riqueza de uma esmeralda!
Assim ocorre com você, comigo, com todos nós… Será que, às vezes, também, não somos como o pequeno vendedor de pedras? Pois não podemos reconhecer o valor de algo maior, externo, que nos dão quando não cultivamos em nós. E assim, perdemos grandes oportunidades na vida, e continuamos vendendo, simplesmente, pedras, à beira do caminho…
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