“Oh, Senhor, Deus do Amor…” – Amor sem Bondade?
A concepção de Deus inicia-se no Homem a partir da relação que estabelece com o que lhe foge à razão. Os deuses representantes das forças ocultas e da natureza recebiam um olhar tenebroso e afugentava seus filhos no medo. Trovões, vulcões, ciclones, terremotos, maremotos precisavam ser acalmados, e nessa perspectiva eram os deuses quem recebiam as oferendas, numa tentativa de barganha, seja com sacrifícios humanos, com o de animais ou ornamentando o altar com flores e fazendo ofertas de frutas e leguminosas.
O Deus de Caim, em Gêneses 4: 1-8, recusa sua oferta, pois este era lavrador. Porém se agrada com a carne de Abel, o que termina naquela tragédia típica de novela das oito. O que implica dizer que aquele era um período antropológico de sacrifícios de animais e Deus, abrindo suas narinas, enche seus pulmões da fumaça do cordeiro assado e se delicia com isso. Como se Deus tivesse narinas… Mas, caso as tenha, ele pega resfriado e usa Sorine?
Mas antes dessa tragédia na família de Adão, aliás ela só não foi pior do que as que são escritas por Aguinaldo Silva e Manoel Carlos, é curioso observar que Deus precisava de algumas aulas de Física, de Astronomia, talvez. Com certeza, não deve ter conhecido Hipácia nem tão pouco Galileu. Einstein, então, nem se fala… Ele cria a Terra, Gen. 1: 1-16, faz a luz antes de criar o sol, o que logo se pergunta de onde vinha a luz. E sem sol ainda faz a noite, faz o dia, separa os continentes dos mares, planta árvores, cria peixes, aves, depois, então, que acha que fez tudo bem feito, resolve criar o sol e a lua. E se não tivesse feito isso não teríamos nem a canção “Noite Feliz”, muito menos a de Francisco de Assis, irmão sol, irmã lua.
Depois dessa trabalheira toda… Ele se arrepende, Gen. 6: 5-8, e resolve destruir o mundo, elegendo apenas uma família chefiada por um lunático, Noé, que diz ter recebido a ordem de juntar um casal de cada espécie para por na arca. Só não entrou o casal de cupim! Afinal de contas Ele sabia ou não o que tinha feito? É ou não é onisciente? E ainda precisa se arrepender? Sentimento tipicamente humano que acompanha muitos culpados, amargurados e depressivos. E impiedoso destrói tudo com água, tal qual uma criança após construir seu castelo na areia antes de ir embora chateada com os pais que não a deixam mais tomar sol. Então, ela apanha água no mar e dissolve toda a criação…
O Senhor do Cristianismo herda a violência do Senhor dos exércitos dos judeus. O Deus do amor do Cristianismo herda a vingança do deus grego, Zeus no Olimpo, pois quando os homens esquecem-se de orar para ele e de adorá-lo é tomado pela cólera, tal qual o Jeová no Judaísmo. O Deus dos cristãos católicos tem casa para morar, a Igreja. E fora dela não há salvação. Ou seja, o Catolicismo é a religião de Deus! E quanto mais altas eram as torres das Igrejas construídas no período medieval, documentos achados e datados desta época revelam a intenção dos sacerdotes de competir entre as províncias para ver qual Igreja chegava mais perto dos céus para, assim, aproximarem-se da divindade, dos anjos, dos santos, dos querubins, do Paraíso.
Esta perspectiva da divindade antropomorfa incentivou a descrença, o aumento dos arreligiosos, dos ateus, o predomínio das ideias materialistas. Ninguém que tenha um pouco de lucidez teme a Deus, muito menos o vê, pois se assim fosse já não seria Deus, e sim mais um ser definido em sua natureza indefinida… Por maior que seja a crença em uma força contrária, no Diabo que disputa as almas com Deus para lançá-las no Inferno, nisso já não pode haver amor, pois que não há misericórdia em Sua bondade.
Onde pode haver Justiça Divina quando há tanta desigualdade social, predomínio dos fortes sobre os mais oprimidos? Perguntam os decepcionados com a religião. Esta Justiça, que não é justiceira muito menos corrompida e instala-se em um único STF chamado consciência é adquirida e não escolhida por indicação. A justiça, o amor, a bondade desse Ser, que não pode ser definido por palavras, pairam acima das escolhas humanas, pois o Homem é dotado de livre-arbítrio, destinado fatalmente à liberdade e por ela e com ela o Homem opera em seu favor ou contra sua própria destinação: a da felicidade.
E as perguntas continuam. Onde pode haver amor de Deus numa criança que ao invés de sugar o leite materno extrai apenas o sangue da mãe? Onde há amor em um câncer ósseo numa criança que mal acaba de aprender a andar? Sim, quem tem que responder a estas questões são os cristãos e não os ateus, os materialistas, nem os descrentes. Entretanto, a resposta misteriosa e insatisfatória é sempre a mesma… “Vontade de Deus”! ou ainda “Deus quis assim…”. Poder-se-ia então devolver a pergunta: Como pode ele sendo amor, sendo bondade ser responsável pelas desgraças humanas? E mais uma vez ele brinca de dar e tirar, construir e destruir, é assim? Já inundou o mundo e agora sua última ameaça é a de destruí-lo com fogo! Vai ver ele fez um cursinho com o pessoal do Estado Islâmico ou com aquela gente boa do Talibã. Virou mais um lobo solitário pelas ruas de Paris ou de Londres, enquanto nós estamos girando nesta esfera que a qualquer momento um desses asteroides deixa de passar perto e acerta o alvo!
Não foi em vão que Voltaire, portanto, afirmou: “Não creio no Deus que os homens fizeram, mas sim no que fez os homens!”. Destinados à liberdade, os filhos da divindade ou dos deuses haverão de crescer, aprendendo a lidar com suas escolhas. E ao saírem da infância psicológica em que se encontram, que os faz “bonzinhos” apenas no Natal quando lembram que há crianças passando fome e que nem todo mundo é filho de Papai Noel, até porque a mulher dele não aguentaria parir tanto assim… aí sim, desta feita, não haverá mais necessidade de temer a Deus, nem de fingir o que não se é. O Homem, de fato, não há como negar: é um “grande e bom filho de Deus…”.
Pensou que eu ia chamar o Homem de outra coisa, não foi?
BIBLIOGRAFIA
Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Ed. Paulus, 2003.
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