Anterior

ONDE JESUS FOI SEPULTADO?

Para responder a esta questão será preciso que lancemos mão dos fatores históricos que enredam a Paixão de Cristo bem como do surgimento da Teologia Cristã, cuja base foi sedimentada na extraordinária crença na ressurreição. Nas pesquisas em andamento, considero a assimilação da crença na ressureição oriunda do cativeiro sofrido pelos judeus na Babilônia: “A ressurreição, e seu corolário, a indestrutibilidade dos corpos, representa uma evolução audaciosa do pensamento escatológico de Zaratustra; trata-se, em suma, de uma nova concepção da imortalidade.” (ELIADE 2010). Nisto se percebe tanto a visão escatológica de mundo quanto a concepção da preservação dos corpos para o dia do juízo final.

Santo Sepulcro

Já há fortes evidências de que a própria ideia do messianato, sob o título de “O Servo Sofredor”, nasceu também no mesmo processo de cativeiro e se refere à pequena elite judaica. (RANGEL, 2013). 

De início desejo esclarecer que atualmente são três os lugares em Jerusalém que reivindicam o reconhecimento daquele que seria o local exato do sepultamento de Jesus. O mais antigo e famoso é o que se encontra na intimidade da Igreja do Santo Sepulcro. Este é conhecido como o túmulo católico de Jesus. A localização do Santo Sepulcro se deu sob as ruínas do templo construído em homenagem a Vênus, quando da reconstrução feita em Jerusalém por ordem do imperador Adriano, no século II d.C.

No século IV, ao se converter ao cristianismo, Helena, mãe do imperador Constantino, recebeu indicações de cristãos e judeus que ali seria o lugar da crucificação e ressurreição, encontrando-se também a suposta catacumba cedida por José de Arimateia para o sepultamento de Jesus. A megalomaníaca Helena acabou com qualquer possibilidade de preservação do material arqueológico ao mandar construir, sobre o local, uma colossal igreja, como fez também em outras regiões apontadas como cenários do Cristianismo Primitivo.

Além de uma suposta pedra onde o corpo de Jesus teria sido deitado em outra parte da igreja, há nichos cavados na rocha que foram usados para abrigar sepulcros judaicos que datam do século I d.C, o que, para alguns estudiosos, são boas evidências arqueológicas que podem dar sustentação ao fato de que Jesus foi enterrado ali. Por outro lado a geografia do local não é muito coincidente com a da narrativa encontrada no evangelho atribuído a João. Entretanto a Igreja do Santo Sepulcro recebe milhões de cristãos, incluindo doentes de várias ordens que para lá se dirigem na esperança de serem beneficiados de alguma forma. Este suposto lugar do sepultamento de Jesus foi dividido entre cristãos católicos romanos, sírios, gregos ortodoxos, etíopes e armênios.

Pedra do Selpucro 1

Sobre a referida pedra que foi usada para a limpeza e preparação do corpo de Jesus pessoas do mundo inteiro se curvam sobre ela para beijá-la, chorar, fazer orações, e esfregam fotos de pessoas doentes, enfim… Todas querem conseguir algo miraculoso através da fé ou, simplesmente, desejam participar da terrível história da crucificação do Galileu.

O outro lugar, conhecido como a Tumba do Jardim, é considerado como o sepulcro protestante de Jesus. Irônico não? Até depois de morto os cristãos, em nome da fé e da salvação, se dividem na escolha do local de sua morte. Estive também neste agradável lugar e após ter feito algumas entrevistas com administradores que ali trabalham deu para perceber que nem eles estão convictos de que este elevado rochoso teria abrigado o corpo de Jesus. O local é inspirador e o silêncio, ao contrário da perturbação do Santo Sepulcro, motiva ao recolhimento e à oração.

Geograficamente trata-se de uma colina facilmente encontrada a 260m, saindo de Jerusalém pelo portão de Damasco, e está a uma altura de 15m, apresentando buracos nas rochas que trazem características semelhantes as de um crânio. Além disso, apresenta um jardim ao lado dos sepulcros, o que o torna muito parecido com o que é descrito no evangelho de João. O grupo do general britânico Gordon, que descobriu o lugar, chegou à conclusão de que ali era também um local muito usado para apedrejamento pelos judeus.

tumba do jardim 1 copy

Posteriormente, em escavações realizadas, encontraram restos de ossos humanos, indicando um possível lugar de crucificação durante o período da dominação na Judeia. A tumba do Jardim, ou colina do Gólgota por ficar fora dos muros de Jerusalém, recebe mais um crédito para ser aceita como o lugar da sepultura, porém os defensores do sepulcro católico alegam que apesar da atual Igreja do Santo Sepulcro situar-se dentro da cidade de Jerusalém, na época em que Jesus morreu aquele sepulcro também ficava fora dos muros da cidade.

O fato de o sepultamento ter sido feito fora dos muros de Jerusalém reflete a tradição judaica que obrigava que aqueles que foram considerados marginais não maculassem o terreno sagrado da cidade. Eis o porquê dos grupos protestantes e católicos defenderem a tese de que ambos os sepulcros estavam fora dos muros da cidade santa.

Em 1980 outra sepultura foi descoberta no bairro de Talpiot, nos arredores de Jerusalém. Em 2006 os primeiros estudos arqueológicos em torno dos dez ossuários encontrados em Talpiot revelaram que eles eram do século I d,C., e as inscrições trazem os nomes de Mariamne Mara, que seria Maria Madalena, Miriam, a possível Maria, mãe de Jesus, Yehoshú’a bar Yussef, reconhecido como Jesus, filho de José, e os nomes de Yehuda bar Yehoshú’a, ou seja, Judas, filho de Jesus e Matya, que foi traduzido como Mateus.

Apesar da empolgação do jornalista judeu Simcha Jacobovici, que exige para si a descoberta do túmulo de Jesus, os arqueólogos e historiadores de Israel não aceitam este sepulcro como sendo os da família de José, principalmente depois dos testes laboratoriais. Outra explicação, segundo eles, é que esses nomes eram comuns em Jerusalém e além do mais a família de Jesus era da Galileia e não há motivos para que suas catacumbas fossem encontradas na Judeia. Vale a pena conferir o documentário A Tumba Perdida de Jesus, lançado em 2007, tendo como produtor o cineasta James Cameron.

Outra sepultura que também requer o direito de abrigar o corpo de Jesus não está situada em Jerusalém, mas encontra-se na Índia, na região da Cashemira. Na cidade de Srinagar há um túmulo que guarda os restos mortais de um homem que veio de uma região distante, morreu em idade avançada, e em vida pregava a existência de um Deus único e era afeito à solidão para meditar e orar. Seu nome Yuz Asaf está escrito em uma placa na intimidade da cripta, e alguns veem certa semelhança na pronúncia com o nome de Yehoshú’a, em hebraico. A tumba de Yuz Asaf é considerada por curiosos, estudiosos, cristãos e até por muçulmanos como sendo a sepultura de um homem santo. Neste caso, acreditam que se trata de Jesus.

Esta teoria baseia-se na especulação que foi feita em torno da morte de Jesus, conforme narra o evangelho atribuído a Marcos. Pilatos teria ficado surpreso quando deram a notícia de que Jesus havia morrido no mesmo dia em que fora crucificado, o que contrariava as mortes por crucificação que, geralmente, levavam dias até o último suspiro do condenado. Segundo esta corrente de pensamento, Jesus teria sido retirado da cruz ainda com vida e os óleos e bálsamos levados pelas mulheres ao túmulo seriam na verdade unguentos cicatrizantes e restauradores.

Em verdade até agora não há provas definitivas acerca do corpo de Jesus. Seu sumiço continua fazendo parte de mais um mistério que envolve a sua história. O que temos são prováveis locais com suas respectivas evidências históricas, e que são relacionadas com as narrativas dos evangelhos. Para os cristãos, ele ascendeu aos céus com corpo e tudo, o que explicaria o desaparecimento de seus restos mortais. Esta crença torna-se mais um problema na fé dos cristãos, pois caso o corpo de Jesus venha a ser encontrado isto abalará profundamente o Cristianismo, pois ele foi estruturado na morte e na ressurreição de Cristo.

FOTOS: LISZT RANGEL

BIBLIOGRAFIA:

ELIADE, M. História das Crenças e das Ideias Rligiosas. Rio de Janeiro: Zahar, vol, 1, 2010. 

RANGEL, L. Jesus Além da Crença. Recife: Editora Serapeum, 2013.

Loading