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POR DENTRO DO JUDAÍSMO – QUEM FOI MOISÉS?

Moshé é um dos maiores líderes do Judaísmo, porém seu nome é de origem egípcia. Ao contrário do que ocorreu com outros príncipes e reis no Egito, Moisés teve apenas o último nome sem qualquer prefixo. Um caso diferente do dele, por exemplo, observa-se em Ramoshé ou Ramosé, traduzido como Ramsés. O Ra no nome de Ramsés seria uma homenagem ao deus Rá, então se entende “o deus Rá nasceu”. Da mesma forma com o rei Thutmoshé ou Thutmosé, que significa “o deus Tot nasceu”. Na mitologia egípcia o deus Tot é aquele que aparece com cabeça de Íbis e sua função no além é escrever, registrar os atos da alma enquanto esteve na Terra. Eis o porquê dele sempre aparecer fazendo anotações enquanto o coração do morto é pesado na balança.

No entanto, em relação a Moisés, que também é conhecido em egípcio na forma abreviada Mosés, a escolha do seu nome não indica referência a qualquer deus sem especificar a quem este menino estaria reverenciando. Ou seja, ele seria o próprio deus? Ou, simplesmente, estaria sem designação da proteção de um deus egípcio? Por ventura, não seria a explicação para ele mais à frente surgir com a ideia de reverenciar o seu Javeh e colocá-lo como único senhor? Coincidência ou arranjo?

No relato bíblico, sua mãe biológica engravidou de um homem da tribo de Levi, ou seja, também do povo hebreu. Porém ela resolveu por o recém-nascido dentro de um cesto feito de papiro e o aproximou da margem do rio, onde havia muitos juncos. Moisés foi criado na cultura egípcia, porém não pela filha do faraó, mas por uma mulher dos hebreus (Êxodo, 2, 1-10). Ela foi paga pela filha do faraó para criar o menino com a promessa de que quando ele estivesse jovem seria devolvido para que ela o adotasse. Diante de Moisés, já crescido, ela teria dito “Eu o tirei das águas.” Daí, equivocadamente, até hoje ter ficado a mística de que seu nome significava “salvo das águas”. Outras lendas na cultura oriental também falam de crianças que foram salvas das águas.

Algo significativo a considerar é que não se pode aceitar tudo o que está na Bíblia como se fosse a mais pura verdade, ou como sendo a Palavra de Deus. Além de ser fora da razão e da sanidade, é antes falta de conhecimento especialmente histórico e científico acerca das descobertas em torno das origens dessas civilizações antigas. Diante de qualquer análise, também não se pode dizer que este ou aquele especialista em idiomas conseguiu traduzir o Velho, muito menos o Novo Testamento baseado em textos originais. Isto também é uma lenda, só que com uma diferença: é uma lenda pós-moderna porque textos originais não existem.

Dos livros considerados como o Pentateuco de Moisés, somente os dois primeiros, a Gênese e o Êxodo, chegaram a ser compilados sete séculos após a suposta ocorrência daqueles fatos ali narrados. Ou seja, são setecentos anos depois do que pode ou não pode ter ocorrido, até porque tudo começou com a tradição oral, passando de boca em boca, e sabe-se que quando cai na boca do povo nada fica mais original, ganha outros contornos. Os difamados que o digam…

Outra questão sem fundamento, e que não se pode deixar de lembrar, é que os livros teriam sido de autoria do próprio Moisés. Porém, como ele escreveria cinco livros estando morto? E mais, um livro que narra sua própria morte. A narrativa é em terceira pessoa, e Javeh é tão perverso que depois de Moisés ter chegado finalmente à Terra Prometida diz assim para ele: “Esta é a terra que sob juramento prometi a Abraão, Isaac e Jacó, dizendo: Eu a darei a tua descendência. Eu a mostrei aos teus olhos; tu, porém, não atravessarás para lá.”

E o pobre do Moisés, depois de tudo, morre aos 120 anos, com todo vigor, segundo o Deuteronômio (34,4), sem ter sequer pisado na Terra Prometida. Uma coisa dessas não se faz com ninguém, Javeh…

Alguns especialistas em Arquelogia e História acreditam que Moisés, de fato, não chegou a ver a Terra Prometida, e que teria sido, provavelmente, assassinado pelo seu próprio grupo, tendo a liderança talvez de Josué, que tomou o seu lugar no comando.

Em verdade, pesquisas realizadas no Egito não comprovam o tal Êxodo que segundo os relatos bíblicos teria ocorrido. Não há registros históricos de tamanha movimentação social. É possível imaginar um grupo que deveria ter em média 600 mil homens deixando o Egito? Além de esses números serem questionáveis, vale salientar que uma saída brusca dessa natureza abalaria a economia de qualquer civilização (RANGEL, 2011). E por que não há outras narrativas sobre este fenômeno social? Tudo naquela época já era bem registrado em “estelas” ou em “tabuinhas”. A Arqueologia Bíblica é que vem tentando provar o contrário, porém é preciso ter muito cuidado quando se trata de revelar “verdades”, levando-se em consideração a linha de pesquisa, quem patrocina e qual a ideologia deste grupo. Já manipularam a História por demais, quer de forma inconsciente, quer intencional e levianamente.

No tocante a Moisés, ou Moshé, não se pode colocá-lo como um revelador da Lei de Deus. As leis que ele propôs ao povo são cópias das leis egípcias. Além do mais, as descrições de terríveis batalhas onde, por sua ordem, muitos foram miseravelmente assassinados não o credibilizam como um intermediário entre o “povo eleito de Deus” e o próprio Javeh, principalmente quando se leva em questão um dos mandamentos: “Não matarás!”. Javeh, ao menos, poderia ter feito um parágrafo nesta Lei e assim teria escrito, “Não matarás!!! – Parágrafo único – “apenas aqueles que não cruzarem teu caminho, Moisés…” Porque foi, justamente, matar o que Moisés mais fez.

Perde-se a conta dos grupos étnicos que ele dizimou por onde passou. Moisés, atualmente, é visto por estudiosos como um grande estrategista militar, porque um gênio belicoso o animava tornando-o, no campo de batalha, tão cruel quanto qualquer outro líder sanguinário da História. Ainda para muitos especialistas, Moisés em suas estratégias de guerra é comparado a Júlio César e a Napoleão Bonaparte.

Quanto ao Êxodo, ao Mar Vermelho que se abriu, aos Dez Mandamentos e a sarça ardente, isso já é outra história…

BIBLIOGRAFIA
Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Editora Paulus, 2002.

RANGEL, L. Por Que Jesus? – Para Compreender a História de um Homem e seu Povo. Recife: Editora Bom Livro, 2011.

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