A pergunta parece tola, mas quando se lê Paulo de Tarso em sua primeira carta aos Coríntios, especificamente em 11:1,”Sede meus imitadores, como eu mesmo sou de Cristo”, a situação se revela extremante grave.
A gravidade de ter se considerado espelho de Cristo e a buscar seus seguidores para uma Religião que acabara de fundar entre os gentios, fez de Paulo não só um narcisista manipulador sob a ótica da Psicanálise, mas um estrategista político-religioso numa perspectiva da História.
A situação criada por Paulo e por seus “obscuros companheiros”, conforme os denomina o historiador Geza Vermes, foi tão distorcida e completamente distoante da mensagem de Jesus de Nazaré que, até hoje, os leigos creem de forma crédula e ingênua que a mensagem de Jesus chegou ao Ocidente graças ao fariseu dissidente do Judaísmo.
Além de Paulo, nenhum de seus amigos conheceram Jesus e pouco se importaram em buscar a originalidade do pensamento do Galileu, muito menos, deram credibilidade aos pescadores que conviveram com ele.
Isto se explica por muitos argumentos. Entretanto, de início, ressalto dois, o que Paulo buscava para si era distinto do que reunia a comunidade judaica dos amigos de Jesus, em Jerusalém; em seguida, nada mais do que óbvio, é que a vida e a mensagem de Jesus não despertava nele qualquer interesse, o que justifica a sua fixação obsessiva no sofrimento e na ressurreição daquele que passou a chamar de Senhor.
Por isso mesmo, se vê insistentemente sair das pregações de Paulo, a fé cega e irrestrita na Parusia, o que significa a crença na volta de Cristo para promover o Juízo Final e despertar os mortos para um reino glorioso.
Sendo assim, conforme já demonstrei em texto anterior, o senhor Paulo de Tarso foi o responsável diretamente pela criação de novas crenças e adequações de antigas e que serviram de base para a Cristandade.
São raríssimos os momentos em que ele se revela em alguma afinidade com Jesus. O que se encontra neste sentido, se explica pela proximidade de crenças judaicas vigentes na época de ambos.
Em verdade, existem mínimas possibilidades, sequer mesmo teológicas, muito menos históricas, de encontrar continuidade da mensagem de Jesus naquela professada pelo narcisista Apóstolo dos Gentios.
Como Judeu que era, Yeshua ben Yossef ou conforme o conhecemos por Jesus, não aceitava qualquer referência a si que pudesse colocá-lo acima de seu Elohins (Criador). Até mesmo no que diz respeito aos poucos ensinos que lhe sobraram em autenticidade, vê-se a profunda diferença, “Portanto, deveis ser perfeito como o vosso Pai Celeste é perfeito”(Mt.5:48), ao contrário de “Exorto-vos, portanto, sede meus imitadores.” (1Cor.4:16).
Para entender este pensamento atribuído a Yeshua, deve-se estudar a identidade cultural e religiosa do povo judeu do século I E.C (Era Comum), e não, fazer as devidas adequações, típicas da herança paulina, e que muitos ainda o fazem vinte séculos depois, como se isto fosse possível e honesto.
Após breve introdução reflexiva, a pergunta inicial se mantém, “Como imitar alguém que não se conhece?”
Para tirar do páreo os pretensos seguidores de Jesus da Pós Modernidade e dar-lhes o devido lugar reconhecido de “Imitadores de Paulo”, faz-se mister esclarecer que qualquer evocação da figura de Cristo, assim como, alguma suposta analogia ao seu amor universal, nada disto tem a mínima relação com Jesus de Nazaré e com a essência de sua mensagem.