ADRIANO, UM IMPERADOR DIFERENTE
Ao lado de Nerva, Trajano, Antonino Pio e Marco Aurélio, Adriano passou a ser reconhecido pela História como um dos cinco bons imperadores que Roma já teve. A teoria de Maquiavel, em O Príncipe, os definiu como notáveis governantes por não terem necessitado de pretorianos violentos, nem de abusarem do poder imperial, tornando-se respeitados pelo exercício de suas qualidades e com isto foram amados pelo povo.
Porém, ao contrário de seus predecessores, Adriano não se preocupava com conquistas e nem com a ampliação do Império Romano, mas com a manutenção de todo território conquistado. Diminuiu as disputas acirradas pelo poder em Roma, mantendo uma boa relação com o Senado, melhorou a qualidade de vida dos cidadãos romanos, recuperou cidades que haviam ficado em ruínas por causa das guerras, obtemperou no uso exacerbado da força para com os conquistados, investiu intensamente na arquitetura tipicamente romana com ruas largas e colunas que embelezavam várias províncias sem deixar, é claro, de mostrar toda a influência grega que recebera na educação.
Adriano ficou conhecido como um grande consolidador do império romano, delimitando as fronteiras do território, edificando fortalezas e grandes muros. A obra de fortificação mais conhecida, deixada por Adriano, foi um muro com extensão de 118 km que ainda hoje é prova do vasto império que foi um dia, o romano. O Muro de Adriano, como é conhecido, fica ao norte da Inglaterra e em visita para estudos arqueológicos na região, pude conferir algumas fortalezas que à época contavam até com escolas e hospitais. A presença romana entre os celtas e os gauleses, onde hoje situam-se a Inglaterra e a França, se deu graças às conquistas ambiciosas de Júlio César. A partir de então Roma travou intensas batalhas nestas regiões para estabelecer um maior controle.
Foi Adriano quem mais se preocupou em definir aonde o império romano se estendia e passou a cuidar pessoalmente de cada forte ou muralha que fosse construída, bem como esteve presente na reconstrução de várias cidades, ao lado de seus engenheiros, construindo templos e embelezando lugares. Estas viagens constantes foram um dos fortes motivos para que ele adquirisse as primeiras críticas dos senadores.
Adriano achava a vida entediante em Roma e enquanto os outros imperadores viajavam para batalhas, ele estava atrás de conhecimento e cultura. Em relação ao uso da força, quando foi convocado para sufocar levantes e motins, não hesitou em garantir a tão aclamada Pax Romana.
Um desses trágicos momentos que marcou o seu governo foi a insuportável situação existente na Judeia. Desde a destruição da cidade sagrada, comandada por Tito em 70 d.C., os levantes motivados pela opressão romana tornaram-se mais frequentes. No ano 132 d.C., enquanto Adriano estava ocupado com os conflitos ao Norte da Inglaterra defendendo a sua muralha, evitou se envolver com os judeus de Jerusalém que chegaram a tomar a cidade e a governá-la por um tempo. Porém, assim que Adriano desvencilhou-se dos conflitos, voltou o seu olhar mais uma vez para a Judeia, haja vista já ter visitado a região e prometera aos judeus a reconstrução da cidade e do templo.
Todavia não disse aos judeus que iria construir uma nova Jerusalém com ares romanos, e que em lugar de um templo à semelhança do que fora o de Salomão o reconstruiria com um novo formato e o dedicaria a Júpiter.
Adriano parecia ignorar os costumes dos conquistados. Neste ponto não foi muito diferente dos demais imperadores. Ele proibiu a leitura da Torá e, por considerar a circuncisão uma atitude bárbara, também a coibiu. Um dos livros sacros dos judeus, O Talmude, contabiliza exageradamente milhões de judeus mortos no confronto com as legiões de Adriano, mas os romanos afirmam que o número chegou a seiscentos mil. Será que ainda assim acharam pouco?
As legiões destruíram plantações, povoados, e mais de cinquenta pontos estratégicos dos amotinados foram devastados com o objetivo de que não restasse nenhuma expectativa de revolta mais à frente. Foi a partir deste fato trágico que Adriano passou a chamar a Judeia de Palestinae e que hoje conhecemos como Palestina. Segundo muitos historiadores a verdadeira diáspora dos cristãos e judeus pelo mundo se deu, justamente, após Adriano sufocar esta revolta na Judeia. Assim sendo Adriano tornou-se um dos grandes responsáveis, ainda que indiretamente, pela expansão do Judaísmo e do Cristianismo.
FOTOS: LISZT RANGEL