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Ressureição de Jesus – História e crenças

A questão da ressurreição de Jesus passa antes pelos conceitos e crenças no judaísmo antigo acerca da ressurreição, do julgamento dos mortos e do retorno do Messias, comumente chamado de Parusia.

A crença da ressurreição dos mortos foi amplamente usada e disseminada entre os divulgadores do Cristianismo nascente, em especial por Paulo de Tarso e os autores dos evangelhos, judeus helenizados, que não conheciam as origens nem as diversas apreciações das crenças que povoavam o imaginário dos Filhos de Israel.

Assim sendo, a ressurreição acabou por sofrer adequações ao este imaginário popular desde o retorno dos israelitas do exílio na Babilônia. Até mesmo durante o tempo em que viveu Jesus, a crença na ressureição será compreendida de diversas formas rudimentares, ganhando outros contornos após a destruição de Jerusalém no ano 70 E.C.

Originalmente, o mundo greco-romano, pagão e politeísta não poderia conceber a crença de que um corpo já consumado pela morte, pudesse ser reanimado pela alma e passar ao julgamento. Isso era por demais fantasioso e porque não dizer motivo de jocosidade para esses povos que esperavam a entrada da alma nos Campos Elísios, após uma vida física dedicada à guerra, à arte ou à filosofia.

Em nenhuma hipótese, gregos e romanos, muito menos egípcios, aceitariam a ressureição da carne nem na Terra, muito menos no além túmulo.

Todavia, para nos aproximarmos da compreensão aprofundada em torno da ressureição de Jesus, algumas perguntas precisam ser respondidas, como por exemplo: como era a crença na ressurreição entre os adeptos da Antiga Fé de Israel? Os contemporâneos de Jesus acreditavam nela? Porventura, ela sempre esteve presente na cultura e na religião do povo judeu?

Após estudarmos as estruturas sociais, religiosas e culturais que formaram a identidade plural dos Filhos de Israel, só assim, teremos maior entendimento se há base para aceitarmos que a ressurreição era crença entre os amigos de Jesus e se eles a compreendiam como os cristãos dos primeiros séculos.

Com esse importante passo na contextualização histórica, poderemos compreender melhor como a crença na ressurreição de Jesus foi usada para atrair novos adeptos para a religião nascente, ou seja, ao Cristianismo.

Um dos pontos relevantes para passarmos ao entendimento da influência desta crença na vida das pessoas até hoje, requer que voltemos ao momento em que ela criou raizes na cultura judaica.

As pesquisas em sítios arqueológicos, sejam no Egito ou em Israel, não conseguem nos dar provas suficientes de que a crença na ressureição tenha sempre existido entre os herdeiros de Abraão, os israelitas.

Os estudos apontam para o desenvolvimento tardio desta crença a partir do Exílio da Babilônia, mais precisamente no século VI A.E.C, e com maior popularidade entre os judeus nos séculos II e I A.E.C.

Quando desvendamos a datação aproximada dos textos judaicos, encontramos duas vertentes de crenças que cercavam os judeus desde a antiguidade.

Uma delas revela que os antigos judeus acreditavam que a perda da imortalidade havia ocorrido devido ao pecado introduzido por Eva no mundo.

Apenas cerca de 200 anos antes de Jesus, um sábio judeu chamado Jesus ben Sirac, começou a ensinar que, na verdade, a condenação proferida por Deus ao Homem, sentenciando a voltar a ser pó, tinha sido por Adão ter introduzido o pecado no Mundo.

Já para o senhor Paulo de Tarso, o seu Cristo foi o segundo Adão já que o primeiro introduziu o pecado no Mundo, o seu Senhor foi aquele que retirou o pecado através de sua morte.

Séculos mais tarde, durante a Idade Média, a Igreja mudou a culpa de mãos, colocando sobre os ombros de Satanás, simbolizado na serpente. De uma forma ou de outra, a mulher voltou a ser associada ao demônio e escolhida como sua cúmplice.

Voltando ao contexto em que Jesus nasceu, existia a escola dos fariseus e esta divulgava a crença da ressureição, pautada nos escritos atribuídos a Ezequiel e ao pequeno apocalipse de Isaías, introduzido posteriormente nos originais e que se localiza entre os capítulos 25 e 27.

De uma forma geral, os judeus acreditavam na existência do Xeol, lugar gélido e desértico, destinado eternamente a guardar as almas, semelhante aos Hades dos gregos.

A escola dos fariseus defendia a ressureição para os justos, fieis cumpridores da Torah. Os saduceus, por sua vez, não aceitavam a ressurreição, alegando que ela não estava descrita com exatidão nas Escrituras e atribuíam a uma questão de interpretação equivocada por parte dos fariseus.

De posse desta informação, você poderá compreender a passagem de discussão entre Jesus e os saduceus acerca da viúva de vários maridos, tema este presente em, Marcos 12:18-37.

Na Antiga Fé de Israel, a própria Torah revela fatos curiosos sobre o mundo dos mortos e acerca da finalidade da existência na Terra.

Se para os judeus a alma após a morte estava em sono profundo, e foi por isso que Moisés decretou a proibição de consultar os mortos. Alguns séculos mais tarde, o rei Saul determinou mais uma vez essa proibição.

Todavia, o próprio rei não resistiu e foi consultar a sensitiva de Endor e lá, segundo as Escrituras, pode ver com seus próprios olhos a alma do profeta Samuel que havia despertado de um sono profundo e um tanto insatisfeito por ter sido perturbado, revelou ao rei o trágico destino que o aguardava, assim como, os seus filhos, no dia seguinte em que ocorreria a guerra.

Isso prova que até mesmo a crença no sono eterno já era presente entre os israelitas. No entanto, para muitos judeus adeptos da ressurreição, existiam os que criam que por obedeceram à Torah, além da alegria de louvar ao Senhor em sua glória na Terra, a possiblidade de terem revestidos os ossos em carne no dia do julgamento seria a maior recompensa.

Por outro lado, para muitos dos judeus na época de Jesus, quem estivesse no Xeol não tinha mais chance alguma de salvação. Agora, você pode entender melhor a passagem que envolve Lázaro e o mau rico, em Lucas 16:19-31.

Também em textos pertencentes aos Manuscritos do Mar Morto, a crença na ressureição possui um valor secundário, haja vista, tratar-se de maior importância o tema da Parusia, que significa o retorno do Messias ou do Filho do Homem.

Se você seguir esta linha de pensamento, compreenderá também que este discurso é de natureza apocalíptica e escatológica, comumente encontrado na boca de Jesus.

Não vamos discutir aqui se ele acreditava ou estava aproveitando o nível de conhecimento da plateia para falar do que já sabiam. No entanto, fica clara a citação de que a angústia não se voltava para a ressurreição dos justos, a não ser que fosse antes para falar do Dia do Juízo Final.

Portanto, para muitos judeus na época de Jesus que herdaram das antigas tradições pós exílio babilônico, existia a crença de que a ressurreição ocorreria um dia, e os eleitos gozariam do seio de Abraão após despertarem ao toque de um sonoro shofar (chifre de carneiro).

Com essas elucidações, você já é capaz de entender que os amigos de Jesus não o tinham como o Filho do Homem, tão pouco como o Messias, e que a ressurreição de Jesus não ocorreu naquele período assinalado pelos escritores dos evangelhos, até porque nenhum dos eventos que marcariam o Dia do Juízo Final estava acontecendo àquela altura.

Sendo assim, compreende-se que a ressurreição de Jesus foi mais uma criação dos judeus helenizados que precisavam apoiar a autoridade de Jesus como aquele que venceu a morte.

Esse é o mesmo Senhor, assim nominado por Paulo de Tarso, que segundo o ex fariseu e assassino de cristãos, nada teria sentido de ser vivido na Terra, se Cristo não houvesse ressuscitado.

Antes de concluir esta breve e superficial reflexão, você pode ainda se perguntar, e as pessoas que Jesus ressuscitou, não existiram? A essa questão, deixo-lhe com a perspectiva para um outro momento.

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