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Por dentro do Judaísmo – Quem disse que os judeus foram escravos no Egito?

Até hoje, o povo judeu lembra o Pessach, o dia de libertação, a saída dos hebreus, os eleitos de Jeovah que estavam subjugados na casa de servidão, o Egito. Em qualquer parte do mundo pós-moderno, não importa, onde quer que more um judeu celebra-se a tradição de “lembrar”, contar através de narrativas aos mais jovens o quão foi importante esta libertação. Na Hagadá de Pessach, obra literária conhecida entre os judeus, lê-se: “Mesmo que sejamos todos sábios, todos entendidos, todos conhecedores da Torá, ainda assim temos o dever de contar a respeito do êxodo do Egito. E todo aquele que mais se estender cotando a respeito do êxodo do Egito, elogiado será”.

Muito mais do que simplesmente narrar, isto desperta um sentimento de pertencimento. Além disso, estimula o orgulho nacionalista e mantém viva a memória de seus antepassados, bem como a preservação da identidade cultural, política e religiosa nas novas gerações que passam a contar o Pessach e ficam tão envolvidos afetivamente que chegam a parecer mesmo que estiveram lá, naquele dia da libertação, tendo como líder Moisés.

Mas, teria Moisés libertado o povo hebreu mesmo? Os hebreus foram escravos no Egito? Ao menos há evidências históricas que comprovem isso? Quem foram os hebreus e por que foram viver no Egito? Estas e outras perguntas encontram-se sem a devida resposta e as que surgem parecem não agradar aos judeus.

Durante muitos anos, teólogos, exegetas, historiadores, arqueólogos e curiosos no assunto debatem acerca da escravidão dos hebreus no Egito e se houve de fato um Êxodo. Estes temas fazem parte de um grande enigma ainda carente de novas luzes de conhecimento e de pesquisas afastadas do olhar perigoso, que é o da vertente religiosa. Ao mesmo tempo, todos reconhecem que a suposta escravidão dos hebreus no país dos faraós é algo tão marcante que ajudou na construção da identidade dos israelitas.

As pesquisas que se desenvolvem no Delta do Nilo e em outras partes do Egito, como nas ruínas de uma cidade antiga, Ramsés, revelam a presença do povo hebreu que teria ajudado na construção, incluindo a de seus monumentos. “A Bíblia diz que os hebreus cansaram da servidão no Egito e depositaram em Moisés a liderança para escaparem do País dos Faraós” (RANGEL, 2011). Existe um documento egípcio datado entre 1550-1070 a.C. que fala da presença de um povo de nome estranho, o apiru. Segundo este registro, os apirus eram mercenários e servos livres que ofereceram suas forças para trabalhar nos campos, vigiar fronteiras e ainda ajudaram no transporte de enormes blocos de pedra para a construção do portal de Ramsés. Todos os trabalhadores, não importava a etnia, segundo revelam documentos antigos, tinham residência, direito ao pão e à cerveja. Portanto, não existiram escravos egípcios e como explica o egiptólogo Rafath Kalifa “quem não quisesse trabalhar, podia ir embora, atravessando o deserto. Podia ficar à vontade…”.

Interessante… algumas vezes percebe-se que povo é povo em qualquer época, em qualquer lugar. Os que trabalharam no Egito parecem com um certo povo que mora abaixo da Linha do Equador. Trabalha para ter pão, sonha com a casa própria, apelando até para pastores e adora uma cerveja…

Há um ponto importante a ser considerado acerca da suposta escravidão dos hebreus no Egito. Além deles, outros grupos de trabalhadores deixaram suas marcas quer na intimidade das pirâmides, quer nas paredes de cidades antigas e inclusive até mesmo na hora da morte, pois tiveram direito a enterros em locais apropriados que foram registrados por ordem de seus governantes.

Alguns estudiosos fizeram uma análise etimológica e descobriram uma certa analogia linguística entre o termo “Apiru” e “Ibri”, ou como é mais conhecida esta expressão, “hebreu”. A partir daí, passaram a defender a tese de que os antigos apirus são os antepassados dos filhos de Abraão que junto com sua esposa Sara foi se instalar no Egito. Apesar de não existir registro histórico de Abraão e de sua peregrinação àquela região, posto que esta narrativa é apenas bíblica, o documento encontrado pode dar alguma garantia de que sendo os apirus livres trabalhadores e mercenários que serviam ao Faraó, este deve ter chegado à conclusão de que esse grupo, por ter crescido demais, poderia por em risco a independência do Egito, o que pode ter levantado uma acerta insegurança na corte do Faraó.

É possível entender agora o porquê de Moisés ter sido classificado por sérios pesquisadores como um general militar, um estrategista bélico. Os apirus além de trabalharem nos campos, na construção civil, ao tomarem conta das fronteiras do Egito contra invasores estrangeiros, se especializaram na arte da guerra e, assim, serviram aos interesses do Faraó até o dia em que Moisés, o “boca de praga”, resolveu conduzir estes mercenários para o que ficou conhecido como o Êxodo.
Mas será que o tal Êxodo existiu mesmo?

BIBLIOGRAFIA:
RANGEL, L. Por Que Jesus? Para Compreender a História de um Homem e seu Povo. Recife: Editora Bom livro, 2011.

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