CLEÓPATRA – A BELA E A FERA
Não há até o momento muitas informações acerca daquela que foi a última rainha do Egito e que ainda hoje permanece como ícone de beleza e sedução. Interpretada nas telas de cinema, a verdadeira Cleópatra ainda se conserva envolta em muitos mistérios e o pouco material que se tem sobre esta “prostituta do leste”, como assim foi chamada por Herodes o Grande, vem justamente das fontes romanas.
Cleópatra VII ou, como a chamam atualmente os egípcios, Qleobatra, foi descendente da dinastia dos ptolomeus que se instalou no poder com a subida de Ptolomeu ao trono egípcio, um dos generais de Alexandre, o Grande, após a sua morte em 323 a.C.
O pai de Cleópatra foi Ptolomeu XII, um faraó que deixou o Egito em um estado precário sem condições de administrar os territórios conquistados. Quanto a sua mãe não se sabe ao certo. Alguns acham que ela era uma aristocrata grega, o que pode ter influenciado o gosto da jovem tanto pela arte quanto pela literatura. Não há dúvidas de que a ligação de Cleópatra com a Grécia é percebida sutilmente na frase que tomou para si: “aquela que ama sua pátria”, o que fez os egípcios acreditarem que seu amor era pelo Egito, mas na verdade era pela Macedônia. Cleópatra se destacou no pensamento político de seu tempo, e era nítido o seu interesse em dominar vários idiomas, o grego, o árabe, o hebraico, o persa que faziam com que ela recebesse pessoalmente mensageiros de diferentes regiões.
A última rainha do Egito não fugiu à regra de suas predecessoras. Tal qual Nefertite, Nefertari, Nitocris que foram regentes muito atuantes ao lado de seus maridos, Cleópatra logo cedo, aos 18 anos, com o afastamento de seu pai que foi exilado do país pela aristocracia, se viu obrigada a desempenhar um papel de filha forte e decidida, a que tinha sabedoria e que tudo faria para permanecer como governante, inclusive comparando-se à deusa Ísis, protegida pelo deus Hórus, com o falcão sobre sua cabeça, conforme se observou em imagens como esta (à direita) em nossos estudos no Egito.
Para administrar ela manteve o costume do casamento consanguíneo, contraindo matrimônio com seu irmão mais novo, Ptolomeu XIII de apenas 10 anos. O casamento, é claro, foi politicamente arrumado para dar a entender a Roma que o Egito não precisava de uma intervenção. Nesta hora surge a figura do Imperador Júlio César que, contrariando o senado romano e seu aliado Pompeu, reconheceu Cleópatra em 51 a.C. diante da morte de seu pai, como rainha do Egito e também tornou o país das pirâmides um protetorado romano.
A partir de então Cleópatra tornou-se amante de Júlio César, sendo sua protegida. Ela é até agora na História revelada do Egito uma das “boazinhas” quando comparada às outras, como Berenice II que governou ao lado de seu primo e marido Ptolomeu III e que por sinal foi assassinada pelo seu próprio filho, ou outra mulher que foi Cleopatra II que mantinha caso com dois irmãos de seu marido e que perturbou a vida política do Egito. Ou ainda quando comparada à Berenice IV, que foi sua irmã mais velha e terminou morta por ter se aproveitado do exílio de seu pai para chegar ao poder. Entre essas mulheres não podemos deixar de fora a rainha Hat-shepsut que se vestiu como homem usando barba postiça e mandando construir várias estátuas por todo o Egito.
Cleópatra não chegou a tanto. Ao contrário, investiu em sedução e inteligência e logos após a morte de Júlio César, em 44 a.C, ela passou a manter relações com Marco Antonio, conseguindo que ele a defendesse perante Augusto e toda a Roma. Marco Antonio recebeu conselho de Herodes para assassiná-la e anexar o Egito, não se opondo a Augusto, mas a sua obstinação apaixonada o levou à derrota e ao suicídio.
O problema de Augusto com Cleópatra e Marco Antonio já era pessoal, pois a sua irmã Otávia era casada com Antonio, e após a morte do amado, Cleópatra pediu misericórdia a Augusto para que ele poupasse ao menos os filhos que ela tivera com Marco Antonio. E para surpresa de todos, Otávia pediu ao irmão para ser a mãe que adotaria os filhos do homem que a trocara pela poderosa do Egito, o que lhe foi concedido.
Se sabemos das qualidades intelectivas e políticas de Cleópatra, ao lado do seu jogo de sedução, a questão que envolve sua beleza ainda é um grande enigma. Observando a sua imagem (acima à esquerda, no início do texto) masculinizada, fundida na moeda gasta pelo tempo, compreendemos a frase de duplo sentido de Blaise Pascal: “Se seu nariz tivesse sido mais curto, a face do mundo teria sido diferente”. Por outro lado se nos detivermos a olhar o seu rosto na escultura exposta no museu do Vaticano (imagem acima à esquerda), veremos uma jovem tal qual está na moeda, com cabelos presos em uma única trança e ostentando uma tiara de rainha, mas com a grande diferença: dá para vermos a mesma beleza que Júlio César e Marco Antonio viram.