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JÚLIO CÉSAR E OS “BÁRBAROS” DA BRETANHA

Todos aqueles povos que não possuíam o estilo de vida romano eram, invariavelmente, denominados de bárbaros. Assim germânicos, celtas, gauleses, judeus e outros foram definidos. Ter a cultura romana, ser um cidadão romano em qualquer parte do vasto Império, quer por direito de nascença ou adquirido durante a vida, representava o que hoje analogamente se diria de alguém que pertence a uma cultura de um país de primeiro mundo, ou seja, uma pessoa civilizada.

Não obstante as demais sociedades se encontrarem organizadas diferentemente da cultura romana ainda assim era visível a diferença que separava os tais “bárbaros” de seus conquistadores. Como exemplo dessa visão estigmatizada o próprio Plutarco considerou os bretões, um povo de vida pobre e miserável, enaltecendo ainda que César ali havia tido grandes vitórias com a morte de vários nativos. É óbvio que há de se considerar que Plutarco, que viveu entre 46 d.C. e 120 d.C., escreveu sobre a presença de César anos mais tarde destes fatos ocorridos, o que implica dizer uma grande distância e questionável confiança na apuração dele no que se refere à biografia do General em suas campanhas em batalha. (PLUTARCO, 2001).

Roma significava um modus operandi quando o assunto era administração pública ainda que levando em conta como ocorre, via de regra nas sociedades ditas “civilizadas”, a corrupção e a falta de ética no que tange à coisa pública. Ainda assim o Império Romano garantiu a construção de novas estradas e a ampliação de antigas rotas de comércio que pudessem facilitar arrecadação de impostos, o envio de tropas a certas localidades e o deslocamento da matéria prima usada em grandes construções quer em Roma, quer nas demais províncias conquistadas. Em contrapartida, aumentaram as comunicações e as relações comerciais entre diferentes culturas, como se verificou no Oriente Médio com o Norte da África, ou entre as terras espanholas, gaulesas e as romanas.

Um exemplo desse processo de conquista se deu na Bretanha. Com a presença de Roma na Britannia, como era chamada a Bretanha pelos romanos, aquelas terras nunca mais seriam as mesmas. Os romanos tinham uma bela e suntuosa arquitetura, ao contrário dos bretões, que tinham apenas casas redondas de madeira revestidas de esterco, lama e palha. Elas não tinham janelas, e a porta era voltada para o leste a fim de receber o sol pela manhã. Arqueólogos do condado de Hampshire recriaram o modelo da residência e descobriram que ela, devido a sua construção, era impermeável e quente para enfrentar o clima frio e úmido da região da Bretanha. Seus pequenos fortes, os Hillforts, também eram feitos de madeira e terra e ficavam apoiados sobre algumas rochas. O modo de vida bretão era rural e não era incomum vê-los bêbados e as tribos brigando entre si.

Incluindo as Gálias, que havia oferecido forte resistência às forças do General Júlio César, a Bretanha estava unida apenas pelos costumes celtas, pois tanto as tribos do Norte quanto as do Sul viviam em conflitos territoriais. E para Roma, que seguia a estratégia de dividir para governar, aquilo representava uma mesa posta e farta para suas legiões.

Júlio César acreditava que as resistências devido ao vasto território, e ainda pela divisão das tribos, seriam pontos a seu favor no processo de conquista da Bretanha e isto lhe renderia uma forte imagem perante Roma, a República, o Senado. Porém sua chegada em 55 a.C. foi um desastre. Parecia que os deuses celtas haviam conspirado movimentando as forças da Natureza como defesa ante a invasão dos estrangeiros. As tempestades levaram parte de seus navios de volta às Gálias e outra parte da frota ficou despedaçada nas praias, forçando-o a recuar. (BROCKLEHURST;WHEATLEY, 2008).

César voltou um ano depois, em 54 a.C., trazendo, segundo alguns historiadores, cerca de 800 navios, mas não se demorou na Bretanha, pois havia surgido uma revolta nas Gálias. Foi grande sua surpresa ao ver os bretões bem organizados para a batalha, inclusive com bigas para combate, parecidas com as dos romanos. Em verdade César nunca pode, de fato, confirmar se na Bretanha havia o que ele esperava: prata e ouro. Ou será que apenas a conquista desse território se tratava simplesmente de mais um capricho do general, tentando aumentar seu prestígio e ampliar a vastidão do Império haja vista, segundo Plutarco (2001), muitos duvidavam da existência de tamanha ilha, a Grã-Bretanha.

Mais tarde o imperador Cláudio descobriria a força dos guerreiros britânicos e os romanos ainda tomariam conhecimento da avançada fabricação na área da metalurgia na Britannia.

Mas isso, já é outra parte da História…

BIBLIOGRAFIA

Plutarco. Alexandre e César. São Paulo: Ediouro, 2001.

BROCKLEHURST, R.;WHEATLEY, A. Romain Britain. London: Usborn Publishing Ltd, 2008.

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