O povo não lê nada. O povo trabalha seis dias por semana e no sétimo vai ao prostíbulo.
A frase de Françoies-Marie Arouet, conhecido mundialmente como o Voltaire, revela não só a sua inteligência e ironia, mas também, as suas duras críticas à Igreja.
Educado na Jansenismo, uma rígida doutrina religiosa, variante do Catolicismo, era obrigado pelo pai a cumprir com as práticas e rituais de sua religião, o que com o passar do tempo, causou em Voltaire uma grande aversão a tudo o que era religioso.
Voltaire está entre as mentes mais brilhantes do século XVIII e foi ele quem nos ofereceu uma forte contribuição para a enciclopédia criada por D’alambert e Diderot, além de ter se tornado um reconhecido escritor de contos e peças teatrais.
Ainda jovem, foi visto como polemista por defender a Tolerância, a Liberdade de Expressão e a Religiosa, coisa que lhe rendeu três prisões e dois exílios. Isso foi determinante para ele usar o pseudônimo de Voltaire e se dedicar ainda mais a defender a causa da Reforma Social.
Em sua vida pessoal, era um galanteador, afeito aos jogos de azar e ainda emprestava dinheiro a juros. Vez por outra, tinha alguém em seu calcanhar para lhe dar uma surra, ou até mesmo ameaçar a sua vida.
Na escrita, adquiriu muitos inimigos, e a usava para satirizar grandes nomes da Filosofia como Rene Descartes, sem deixar de lado, as críticas à sociedade, à nobreza absolutista e à religião em seu tempo.
A frase de Voltaire é irônica e exige compreensão do contexto histórico em que foi escrita. O “prostíbulo” em questão não se trata de um comércio de prazeres sexuais, mas de fato, ele se referia à Igreja, procurada aos Domingos pelos fieis que iam à missa.
O “povo” que trabalha seis dias, se trata de mais uma ironia. Desta feita, tendo sido comparado a Deus que fez o Mundo em seis e descansou no sétimo. Nesse caso, a tradição cristã distorceu a crença judaica e também romana.
Para judeus, o “sabatt” seria o dia do descanso divino e para os romanos a sua importância se dá por ser dedicado ao deus Saturno. Posteriormente, a igreja cristã passou o dia do descanso do sábado para o domingo.
Sendo assim, o povo trabalha, tal qual Deus, e descansa no sétimo. Todavia, sem ler nada, ou seja, sem instrução e sem consciência se entrega ao prostíbulo, representado pela Igreja.
Esta, por sua vez, comercializando a fé oferecia prazeres tanto aos pecadores que a procuravam como àqueles que a representavam. É neste sentido que se entende a frase de Voltaire.
Inteligente, profundo e sarcástico, deixou mais de dois mil textos em setenta obras. Independente da antipatia que angariou, Voltaire foi uma das maiores personalidades do Iluminismo francês.